perdão

O que se perde enquanto os olhos piscam

Ciúmes, inveja, incompreensão, falta de empatia… Esses são alguns dos sentimentos que fazem tremer as bases de um relacionamento interpessoal. Mas eu me arrisco a dizer que o pior dos venenos é o orgulho.

O orgulho que te faz querer provar a todo custo que você está certo, independente do quanto vai machucar a outra pessoa. O orgulho que te faz acreditar que qualquer vivência do outro tem o único e exclusivo objetivo de te machucar. O orgulho que afasta pessoas que se gostam pelo simples fato de que nenhuma das duas quer dar o braço a torcer. O orgulho de remoer palavras amargas que foram ditas em um momento de raiva.

Somos humanos. Eu, tu, ele, nós, vós, eles. Temos desejos inconfessáveis, vontades reprimidas, medo da solidão, medo da entrega. Medo de entrar em uma disputa e sair perdendo. E o medo encobre tanto a vista que chega um ponto em que sequer conseguimos lembrar como a disputa começou.

Ao mesmo tempo em que constrói muralhas, o orgulho derruba pontes. E num piscar de olhos, tudo o que levou anos para ser conquistado pode acabar indo pelo ralo. Confiança, companheirismo, respeito. Pelo medo de estender a mão e compreender que o outro é tão humano quanto você e que a dor dele pode ser pior que a sua. Será que vale a pena?

Perdão não é fraqueza. É sinal de humanidade. É entender a fragilidade do outro e abraçar a sua própria. A vida é frágil, assim como nossos laços. Por que não começar a construir mais pontes em vez de muros?

(P.S.: emprestei o título do artigo de uma música do Teatro Mágico que me veio junto com a inspiração.)

Aquele velho amigo, o vazio

A literatura de conselhos para levar uma vida perfeita é bem vasta. Da psicologia à auto ajuda, da filosofia à publicidade, do paganismo ao Alcorão, crescemos, vivemos e morremos ouvindo o que deveríamos fazer (e culpando a nós mesmos por não seguir à risca as instruções.

Ame a si mesmo. Encontre um amor. Case, tenha dois filhos, três cachorros e o carro do ano. Se mate de estudar, depois de trabalhar, para poder se aposentar e curtir a vida. Venda tudo, compre um trailer e saia pelo mundo sem destino.

Compre os gadgets do momento. Troque o guarda-roupa a cada estação. Frequente a balada da moda, use o perfume da moda e saia com pessoas lindas, loiras e saradas.

Faça o que ama, ame o que faz e nunca será mais um frustrado na multidão de engravatados (tá, essa piada pelo menos é boa).

Exercite-se. Recicle o lixo. Adote um animal. Vá à igreja.

Be yourself. Go vegan. Just do it.

Mas no fundo, no fundo mesmo, não importa o que você faça, ele sempre vai estar lá te observando. Triste, silencioso e profundo. Vai esperar o momento errado para bater na sua porta, como um antigo amor que resolve surgir do nada depois que você já conseguiu, a muito custo, curar suas feridas. Sufocante e impiedoso, te faz acreditar que nada faz sentido e que você não pertence a lugar nenhum. Às vezes, ganha um nome comercial: crise dos 20, dos 25, dos 30, do profissional recém formado, dos 7 anos de casados. Mas é sempre o mesmo, e ri da sua cara enquanto você se culpa por estar num “momento ué” sem nenhum motivo aparente.

É quando você pára e pensa: seria mais fácil encontrar a resposta se eu ao menos soubesse qual é a pergunta?

Linhas tortas

Não me considero lá uma pessoa muito religiosa, mas tenho fé em Deus e acredito que o que é pra ser nosso acaba sendo, de uma maneira ou de outra. Aliás, acho que Ele tem um senso de humor bem peculiar, pois geralmente isso acontece da maneira mais torta e irônica possível — mas acontece.

Com uma ressalva: você tem que ralar. Afinal, se caísse do céu, seria tudo muito fácil e entediante, não é? Nananina. “Quer alguma coisa, filhão? Eu te ajudo, mas vai atrás. Dê seu sangue pra eu ver se você merece.”

E quem disse que Deus não curte ciência? É a primeira lei de Newton: um corpo em repouso tende a permanecer em repouso, e um corpo em movimento tende a permanecer em movimento.

Portanto, se você está de saco cheio da sua vida, pare de reclamar no Facebook e de alugar o ouvido dos seus amigos e tome uma atitude. Vá lá e faça. Mude. Saia da inércia. Enquanto você não tomar as rédeas dos seus problemas e pensar em uma solução concreta, eles vão continuar lá. Deus não vai descer pra segurar na sua mãozinha e te mostrar o que você tem que fazer  — e não faz diferença nenhuma o quanto você pagou de dízimo o mês passado.

Eu sei que é difícil largar o emprego que você odeia ou o relacionamento que já declarou falência faz tempo. Comece devagar, então. Que tal aquele corte de cabelo que você sempre amou mas nunca teve coragem de fazer? Se não der certo, cabelo cresce. Se der, você ganha coragem e um up na autoestima. A “zona de conforto”, de confortável, não tem nada: é uma região tóxica e sufocante, que rouba a sua vontade de viver dia após dia.

De vítimas das circunstâncias o mundo já está cheio. Que tal começar a escrever a sua própria história?

(P.S.: li em algum lugar que quando uma mulher está de saco cheio, a primeira coisa que ela muda é o cabelo. Faz sentido, as duas mudanças mais radicais que eu já fiz no cabelo foram o começo das duas guinadas mais importantes que eu dei na minha vida, quando comecei a sair de onde eu estava e me perguntar onde eu quero chegar. Coincidência? Acho que não.)

(P.S. 2: achei mil imagens lindas pra esse post, mas TINHA que ser essa. Thelma e Louise, divas eternas!!!)

Qual é o preço do seu sonho?

Dizem por aí que sonhar é de graça, mas não é bem assim. Você já parou pra pensar em qual é o preço do seu sonho?

Explico. Vamos supor que o seu sonho seja ser aprovado em um concurso público. Provavelmente você sonha com o seu nome na lista, a festa de comemoração, a admiração dos parentes e amigos, o salário polpudo no fim do mês. Tudo muito lindo. Mas você está disposto a pagar o preço? Estudar enquanto os amigos estão na balada, perder noites de sono, tempo com o/a namorado/a, se dedicar ao máximo? E quando você passar, já pensou em como vai ser o dia-a-dia? Talvez sua repartição seja cheia de colegas mal-humorados, um chefe arrogante, talvez você tenha que resistir a ofertas de suborno. E se o seu cargo for alto (como por exemplo promotor ou juiz), talvez tenha que lidar com ameaças à própria vida.

Talvez seu sonho seja casar e ter filhos. Você pensa na cerimônia, você linda de véu e grinalda (ou aquele terno estiloso), a festa, a viagem de lua de mel, dormir de conchinha todos os dias e acordar ao lado do amor da sua vida. Depois, a gravidez e o seu primeiro filho nos braços. Mas nem tudo é cor-de-rosa. Inevitavelmente virão as brigas, os dias em que vocês vão dormir se odiando, as crises de mau humor, as crianças fazendo birra, o dia em que você quer pintar o cabelo e passar aquela máscara verde na cara e o seu querido cônjuge não sai de casa de jeito nenhum. Você está preparada(o)?

É, meu amigo, sonhar não é de graça. Custa caro, e muito.

Isso não quer dizer que seja melhor desistir. Pelo contrário, todas as escolhas envolvem uma dose semelhante de prazer e sacrifício, e um pouco de realismo não faz mal a ninguém. Então, se você tem um sonho, pare e pense: você está disposto a pagar o preço?