Sobre resiliência, ansiedade e dor

Na psicologia, resiliência significa a capacidade de lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão, administrando as próprias emoções e evitando agir com base em impulsos.

Para quem sofre de ansiedade, o buraco é um pouco mais embaixo. Você cria cenários improváveis na mente, sofre pelo antes, pelo durante e pelo depois, antecipa o futuro, porque conviver com a incerteza é quase insuportável. Como se não bastasse a inquietude, qualquer problema mínimo traz o combo insônia + dor de estômago + enjoos. E o desespero em resolver o problema, na maioria das vezes, vira um tiro pela culatra.

E a dor… ah, a dor. Parece que vai arrancar suas entranhas pela boca. Sempre achei que não podia existir nada pior que a dor. Você passa a vida tentando fugir dela, e a tentativa de fuga acaba se transformando em um atalho. “Toda dor vem do desejo de não sentirmos dor”, já dizia Renato Russo.

É quando você se depara com a paralisia e a impotência. Quando chega aquele momento em que nem as lágrimas conseguem sair mais, e fica apenas o vazio. Quando você é obrigada a se conformar com a decisão de Deus, do Universo, ou seja lá do que for, porque não sobrou nenhuma possibilidade de mudança através das suas mãos. Quando a finitude da vida e de todas as coisas te observa com aquele olhar implacável e te obriga a perceber que tudo é volátil.

O que é a dor comparada ao entorpecimento da anestesia? Pelo menos, a dor te faz sentir que a vida ainda pulsa nas veias.

perdão

O que se perde enquanto os olhos piscam

Ciúmes, inveja, incompreensão, falta de empatia… Esses são alguns dos sentimentos que fazem tremer as bases de um relacionamento interpessoal. Mas eu me arrisco a dizer que o pior dos venenos é o orgulho.

O orgulho que te faz querer provar a todo custo que você está certo, independente do quanto vai machucar a outra pessoa. O orgulho que te faz acreditar que qualquer vivência do outro tem o único e exclusivo objetivo de te machucar. O orgulho que afasta pessoas que se gostam pelo simples fato de que nenhuma das duas quer dar o braço a torcer. O orgulho de remoer palavras amargas que foram ditas em um momento de raiva.

Somos humanos. Eu, tu, ele, nós, vós, eles. Temos desejos inconfessáveis, vontades reprimidas, medo da solidão, medo da entrega. Medo de entrar em uma disputa e sair perdendo. E o medo encobre tanto a vista que chega um ponto em que sequer conseguimos lembrar como a disputa começou.

Ao mesmo tempo em que constrói muralhas, o orgulho derruba pontes. E num piscar de olhos, tudo o que levou anos para ser conquistado pode acabar indo pelo ralo. Confiança, companheirismo, respeito. Pelo medo de estender a mão e compreender que o outro é tão humano quanto você e que a dor dele pode ser pior que a sua. Será que vale a pena?

Perdão não é fraqueza. É sinal de humanidade. É entender a fragilidade do outro e abraçar a sua própria. A vida é frágil, assim como nossos laços. Por que não começar a construir mais pontes em vez de muros?

(P.S.: emprestei o título do artigo de uma música do Teatro Mágico que me veio junto com a inspiração.)

E agora, um poema

Depois de mais de dez anos, resolvi me arriscar a escrever em verso de novo. Gostei, a escrita flui ainda mais visceral. Espero que gostem também.

Fatiga os ombros como o peso das memórias

Retalha o peito como mil facas em brasa

Invade a alma como o frio da solidão

Amarga a língua como o gosto do fracasso

Transborda os olhos como o sangue da derrota

“Dessa vez vai ser diferente”. Ledo engano. 

You’ll never be good enough.

O pior de você

Amor é um bicho complicado. É fácil dizer que se ama alguém entre duas taças de vinho e alguns beijos na nuca, com borboletas no estômago e um céu brilhante lá fora. Mas quando a tempestade chega, as coisas mudam.

Difícil é amar em tempos de vacas magras e sorrisos escassos. Quando nem tudo sai como se espera e quase nada como se deseja. Quando você olha nos olhos do outro e consegue ver o abismo que há em sua alma.

Sim, há um abismo na sua alma, assim como há na minha, e o meu não é mais belo que o seu. Tenho medo de altura, que dirá de abismos… Tenho medo de não suportar o meu, que dirá de conviver com o seu. Mas vi o pior de você e ainda assim não quero ir embora, porque sei que o seu melhor você reserva pra mim. Acho que agora posso dizer com toda a certeza que eu te amo.